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terça-feira, 20 de junho de 2017

A pergunta não é “como é que isto aconteceu?”, mas “como é que isto nunca tinha acontecido?”.



Quem andar pelas estradas, que não sejam Auto-Estradas, IP’s ou IC’s ( e mesmo essas!!!!...), já se interrogou como é que aquilo não vai pegar tudo fogo, até com um simples acto, um hábito criminoso que infelizmente se vê frequentemente, o de atirar uma beata pela janela.

É que junto às bermas da estrada, principalmente na Primavera e no Verão, muitas vezes invadindo-as, existe um mar de ramos, folhas e lixo florestal seco, para além de milhares de eucaliptos e pinheiros encostados ao alcatrão e cujas raízes rompem as estradas.

Se de repente nos depararmos com uma situação de fogo de grandes dimensões, que se desloca a uma velocidade vertiginosa e se propaga em segundos, não há grandes hipóteses de escapar do inferno.

E ao reflectirmos sobre essa situação, com que todos já nos deparáramos quando andamos pelo interior centro e norte do país, fora das grandes vias, outra questão nos assalta:

- existindo legislação de há anos que impõe uma distância mínima de 4 metros e máxima de 10 metros (presumimos que, neste caso, em zonas de maior densidade florestal) das florestas, como é possível que a situação que acima descrevo seja a habitual, mais concretamente nas regiões de maior densidade florestal?

O trágico desfecho na EN 236 foi um desfecho “lógico” para situações frequentes como aquelas que acima descrevi, com base na experiência pessoal, e a pergunta é de facto, como é que  isto nunca tinha acontecido antes?!!

Obviamente existem responsáveis pela falta de cumprimento  na aplicação da lei, que podia ter evitado, pelo menos, uma tragédia com aquelas dimensões. Em primeiro lugar as próprias pessoas que, abdicando do seu dever de cidadania, principalmente as que frequentam regularmente aquele tipo de estradas,deviam denunciar o perigo a que se sujeitam todos os dias. Em segundo lugar as autarquias e autoridades locais, que têm a obrigação de detectar e agir sobre situações de perigo como essas.

Não se venha é agora tentar encontrar na actual Ministra da Administração Interna a responsabilidade pela falta de cumprimento da lei neste caso.

E já agora, para esses, talvez seja bom recordar que Pedrogão Grande é governado por uma autarquia do...PSD!!!

Não deixa, aliás, de ser curioso que aqueles, que tanto propagandeiam contra a “centralização” e em defesa da redução dos poderes do Estado sejam os primeiros a agora a lançar acusações contra a Ministra.

É bom recordar, igualmente, que as condições para a rápida propagação de um incêndio, com as trágicas proporções deste, estão identificadas e são desde há muito denunciadas, principalmente por entidades técnicas independentes e por organizações ambientalistas:

- a falta de limpeza e vigilância das florestas;

- a falta de ordenamento rural e florestal;

- a expansão desordenada do Eucalipto;

- a desertificação do interior;

- o agravamento de condições climatérica.

Todas essas evidências, que estão na origem da maior parte dos incêndios no País, facilitam a fácil propagação dos mesmos e a sua dimensão descontrolada.

Querem responsáveis? Aí os têm:

-os defensores dos interesses privados sobre os colectivos ( mais de 90% da área florestal é privada);

- os que tudo têm feito para destruir o tecido social português, nomeadamente contribuindo para desertificar o interior, encerrando serviços essenciais para fixar populações;

- os que têm contribuído para adiar a regionalização, essencial para descentralizar serviços e combater a desertificação do interior;

- os interesses ligados às celuloses,

- os cortes cegos em serviços do Estado essenciais à vigilância e manutenção da floresta, como o dos guardas florestais, com esta ou outra designação;

- os responsáveis que , desde o local ao nacional, continuam, há décadas, a adiar medidas previstas de ordenamento do território e de ordenamento florestal;

- por último, uma cultura de falta de civismo de muitos habitantes e de muitas pessoas, muitas das quais são as mesmas que acabam por ser vitimas de tragédias como esta.

Se a situação vivida por estes dias serviu para alguma coisas, e se, de facto, queremos mesmo respeitar as vítimas e os que, no terreno, combateram e ainda combatem o flagelo, então devemos exigir que se cumpra muito do que já está legislado sobre esta matéria, de uma vez por todas.

…e não venham com a desculpa da falta de dinheiro, como já ouvi de alguns, curiosamente os mesmo que sempre defenderam que o dinheiro dos contribuintes, dos trabalhadores e dos pensionistas fossem postos à “disposição” do resgate dos bancos.

Se há dinheiro para resgatar bancos, tem de haver dinheiro para resgatar as vitimas do incêndio e para executar as medidas necessárias para prevenir e evitar outras tragédias como esta, com a certeza que sai mais barato, é mais rentável para o país e tem mais utilidade!!!!

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