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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Mário Soares, “anti-TINA” antes do “TINA!


TINA =  “There Is No Alternative” (“Não há alternativa”).
A frase é atribuída a Margaret Thatcher que a usou para justificar as suas políticas  para destruir o Estado Social britânico, destruir os direitos sociais dos trabalhadores do seu país e, desde então serviu de mote para lançar a aventura neoliberal que conduziu o mundo e a humanidade à desastrosa e dramática situação actual.
Por cá a frase ganhou relevância nos anos da Troika e ainda continua a ser usada pelos defensores das políticas anti-sociais então levadas a cabo para justificar a destruição do nosso já de si rudimentar e frágil Estado Social, retirar direitos socias aos trabalhadores e cidadãos e fragilizar o factor trabalho.
O “TINA” é o único programa político económico e social que é proposto aos cidadãos europeus pelo actual “politburo de Bruxelas” (BCE, Eurogrupo, Comissão Europeia, Eurofine, Conselho Europeu…) e que tem vindo a destruir alguns dos aspectos mais benéficos da União Europeia, como o Estado Social, a solidariedade político-cultural e a economia social que estiveram na sua origem.
Mas a “filosofia TINA” é muito anterior ao thatcherismo e serviu de mote e justificação a todo o tipo de barbaridades cometidas contra a humanidade ao longo dos tempos.
Nesse sentido podemos ver no percurso de Mário Soares uma coerente e precursora atitude “anti-TINA”.
Quando, em Portugal,  a situação mais confortável e segura, até para garantir carreira e emprego, era , no mínimo fazer a “vidinha” ignorando a ditadura salazarista ou, no máximo, colaborar com esta, porque “não havia alternativa”(“TINA”!!), Mário Soares colocou-se no lado certo da história sujeitando-se, durante mais de 50 anos da sua vida, a perseguições, prisões, deportação e exílio, em vez de ir à sua “vidinha” de advogado com uma carreira prometedora e rentável.
Quando, por outro lado, no fim do regime, a única oposição organizada e viável parecia ser a que era preconizada pelo PCP (o “TINA” da maior parte da oposição), Mário Soares arriscou fundar o Partido Socialista e romper um certo unanimismo no seio da oposição.
Quando, depois do 25 de Abril, e principalmente depois do 11 de Março, o futuro do novo regime parecia oscilar entre, por um lado, um regime de tipo cubano, um novo satélite soviético ou uma nova Albânia  achinesada ou, por outro lado, uma guerra civil ou uma nova ditadura militar à “Pinochet”, Mário Soares, rompendo mais uma vez com o “TINA”, defendeu a democracia e a liberdade como futuro, mesmo aliando-se muitas vezes a gente pouco recomendável, nem sempre da melhor maneira, por vezes solitário.
Já com a  jovem democracia a denotar alguma fragilidade, contra os que achavam o país condenado à pobreza e ao terceiro mundismo, como defendiam os defensores do TINA de então , e remando mais uma vez contra ventos e marés, e mais uma vez nem sempre da melhor maneira, conduziu o país para a integração na então CEE.
Foi ainda num clima que lhe era fortemente adverso, onde mais uma vez os profetas do TINA de então lhe vaticinavam uma humilhante reforma da política (já tinha então quase 65 anos), mais uma vez, enfrentando uma conjuntara que lhe era desfavorável, mesmo dentro seu partido, conseguiu o que parecia impossível, o apoio do voto comunista, e ganhou as eleições presidenciais.
Já nos últimos anos da sua vida tornou-se um critico activo e feroz do “tinismo” dominante dentro e fora de fronteiras, tendo-se antecipado a muitos nas criticas à decadência e desvirtuamento do projecto europeu e contra a política socialmente criminosa da Troika em Portugal.
Curiosamente esta última fase da sua trajectória política tem sido cirúrgica e cinicamente escamoteada pela maior parte dos comentadores televisivos e na imprensa, atitude que não será de estranhar se tivermos em conta que as direcções da maior parte da comunicação social estão nas mãos de conhecidos propagandistas do “TINA” (honra seja feita ao diário “i” que hoje publica a última entrevista de Soares, dada àquele jornal em 2015, e recorda as últimas acções políticas e publicas de Soares em defesa de uma aliança à esquerda contra a nova direita radical  neoliberal).
Até no “anti-tinismo” recente Mário Soares soube estar à frente o seu tempo.
É caso para dizer: Morra "o" "TINA", Morra!,….viva Soares!!!

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