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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Torrienses na Coluna de Salgueira Maia.

 


Por ocasião do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974, o jornal Público editou uma revista sobre a acção decisiva da coluna militar da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandada por Salgueiro Maia, no derrube do regime salazarista.

Nessa revista, para cuja elaboração aquele diário reuniu a maior parte dos 240 militares da dessa coluna militar, encontramos 6 torrienses, de nascimento ou adopção, que nela participaram, aos quais podemos juntar um sétimo nome, resgatado do esquecimento em recente reportagem do jornal Público..

Como escreveu José Manuel Fernandes no editorial dessa publicação, eram “240. Todos quantos foram necessários para fazer cair um regime velho de duas gerações, tão velho que quase nem resistiu.

“Eram os 240 de Salgueiro Maia. Apenas um punhado de soldados que há 25 anos saíram, madrugada alta, de Santarém para descerem à capital, ocuparem o Terreiro do Paço, subirem ao Carmo e aceitarem a rendição de Marcelo Caetano”.

À data da publicação da revista, Salgueiro Maia já tinha falecido, tal, como na altura, em 25 de Abril de 1999, também tinha acontecido com outros 11 elementos dessa coluna saída de Santarém. Outros 28 não foram encontrados e 15 faltaram ao encontro com o jornal, realizado no dia 27 de Março.

Entre os que compareceram, viviam e trabalhavam então em Torres Vedras seis membros da coluna de Salgueiro Maia.

Contudo, é provável que entre os que não foram encontrados ou já tinham falecido nessa data, existissem outros militares ligados a Torres Vedras.

Também pode acontecer que, entre todos os militares identificados nessa publicação, alguns fossem naturais ou estivessem ligados a Torres Vedras, pois essa publicação indica apenas o local de trabalho e residência dos membros daquela coluna militar à data da publicação da revista, 25 anos depois daqueles acontecimentos.

Aqui recordamos os seis nomes registados nessa publicação:

- Carlos Alberto da Costa Ferreira, que era instruendo do Curso de Sargentos Milicianos (CSM), então com 20 anos, fazendo a especialidade de atirador de cavalaria, vendedor de profissão, 25 anos depois, à data daquela publicação, e que tinha como habilitação o 2º ano da secção preparatória do Instituto Industrial, e viva em Torres Vedras: “foi das melhores coisas que me aconteceram na vida. Para além da liberdade que passou a haver, foi o fim da guerra colonial”;

- Hélder Aniceto Correia, tinha 24 anos na altura e comandava uma secção do 8º pelotão de atiradores. Com o bacharelato, 25 anos depois era professor do ensino secundário: “O que se viveu na EPC antes, durante e depois foi maravilhoso. Nunca esquecerei e não me inibo de divulgar aos jovens o que era essa época , para que possam comparar”;

- João Maria Figueiras Constantino, com 20 anos, era instruendo da CSM, fazendo a especialidade de atirador de cavalaria, desenhador projectista à datada reportagem, com o curso industrial como habilitação, vivendo em T. Vedras. Para ele o 25 de Abril “derrubou o regime e deu-nos a liberdade ansiada há muitos anos”;

- José Morais Travassos, com 25 anos era instruendo do CSM, a fazer a especialidade  de atirador de cavalaria. À data da reportagem tinha o 5º ano do curso industrial e era encarregado em serralharia mecânica: “Estava condenado a ir para as províncias  ultramarinas  e com o 25 de Abril ficámos livres dessa guerra. Houve liberdade para os civis”;

- Luís Ferreira, era soldado atirador, de 23 anos, com a 4ª classe como habilitação. 25 anos depois era sucateiro em S. Pedro da Cadeira: “Pusemos fim a um regime de repressão e por isso valeu a pena”;

- Vasco Ferreira Andrade Lopes, era instruendo do CSM e, com 21 anos, à data do 25 de Abril fazia a especialidade de atirador de Cavalaria. Vinte e cinco anos depois era professor de musica em A-Dos-Cunhados, tendo por habilitações o Curso de Formação de Montador-Electricista. Sobre o 25 de Abril afirmou ao jornal: “Foi uma boa jogada, porque na altura não estava preparado para fazer o que fizemos e acabou por correr tudo bem”.

A estes nomes devemos acrescentar outro nome recentemente recuperado do esquecimento (não constava daquela investigação) o de Francisco João Ferreira natural , a trabalhar e a viver da agricultura em A-Dos-Cunhado, e que foi o condutor do jipe onde seguia Sagueiro Maia, cuja história foi contada no jornal Público no suplemento dominical P2, do dia 21 de Abril de 2004, numa reportagem assinada por João Pedro Pincha, intitulada “O Militar que Parou no Vermelho a Caminho da Revolução”.

Recorde-se ainda que, desse grupo, faziam parte outros militares que, à data da reportagem, vivam em concelhos vizinhos de Torres Vedras:

- José Manuel de Carvalho Clímaco Pereira, professor do ensino secundário no Bombarral, à data da reportagem;

- Orlando Miguel Ribeiro Lourenço, empresário agrícola no Cadaval, à data da reportagem.

Lembramos, contudo, que essa publicação regista apenas a coluna de Salgueiro Maia. Outros torrienses terão participado no 25 de Abril, incluídos noutras forças militares, trabalho de levantamento que está por fazer.

Para além da coluna de Salgueiro Maia (ou Escola Prática de Cavalaria de Santarém), fizeram o 25 de Abril os militares da Escola Prática de Transmissões de Lisboa, da  Escola Prática de Cavalaria de Vendas Novas, da Unidade do Regimento de Artilharia Ligeira 1 (RAL 1), do Regimento de Engenharia nº1 (RE1), de Lanceiros 2,  da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), da Escola Prática de Infantaria de Mafra (EPI), do Batalhão de Caçadores (BC9), do Regimento de Infantaria 14 de Viseu, do Regimento de Infantaria 10 de Aveiro, do RAP 3 da Figueira da Foz, de 2 companhias operacionais do Batalhão de Caçadores 5 de Lisboa, da Escola Prática de Artilharia, de uma Companhia de Comandos do CIOE de Lamego, de uma força do CICA 1 do Porto, , do Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz, do Regimento de Artilharia Ligeira 3 de Évora e da Companhia de Caçadores  4242 e 4246 de Santa Margarida.

Esta lista, que pode estar incompleta ou com algumas imprecisões, serve de mote para que um dia se faça um levantamento dos militares torrienses que, não tendo feito parte da coluna de Salgueiro Maia, participaram nas operações do 25 de Abril como membros daquelas forças, sem esquecer que muitos outro terão participado noutras forças que, não estando na origem desse movimento militar, a ele terão aderido ainda ao longo desse dia, participando noutras acções.

Para além de Victor Alves, “capitão” de Abril, a quem já nos referimos em crónica anterior, e desse 6 torrienses da coluna de Salgueiro Maia, seria importante que se aproveitasse o cinquentenário da data para homenagear todos os torrienses que fizeram estiveram na rua a “fazer” o 25 de Abril, sem esquecer os muitos que, noutras lutas, pagando com a prisão ou a marginalização social e económica, muito contribuíram para que se chegasse a esse dia “inicial inteiro e limpo” (Sphia Mello Breyner).

O 25 de Abril é a “Data fundadora da Democracia”.


A afirmação foi de Ramalho Eanes, numa entrevista dada à SIC.

O primeiro presidente eleito quis assim reassumir a importância dessa data, criticando implicitamente aqueles que querem fazer um distinção entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro.

Para ele o 25 de Novembro não pode ser interpretado separado da data fundadora da democracia, respondendo assim, de forma indirecta, àqueles que querem comemorar o 25 de Novembro separando a data do 25 de Abril.

Recorde-se que alguma direita (Moedas e Passos Coelho), a direita radical (CDS e Iniciativa Liberal) e a extrema-direita (CHEGA) têm insistido em desvalorizar o 25 de Abril, enfatizando a “superioridade” do 25 de Novembro em relação ao “dia inicial inteiro e limpo” (citando Sofia de Mello Breyner).

Não deixa, assim, de ser importante que o militar que comandou as operações do 25 de Novembro venha recordar a importância do 25 de Abril, considerando que o 25 de Novembro foi o reassumir do compromisso democrático inicial.

Recorde-se que o 25 de Novembro foi conduzido por militares do 25 de Abril, de  Ramalho Eanes a Salgueiro Maia, de Victor Alves a Melo Antunes e de Vasco Lourenço, entre outros.

Eanes deita por terra a tentativa de uma certa direita fazer do 25 de Novembro uma data revanchista em relação às conquitas do 25 de Abril.

Transcrevemos em baixo a reportagem publicada no site da Rádio Renascença, sobre essa entrevista, que também pode ser ouvida no site da SIC :

 

“O antigo Presidente da República António Ramalho Eanes defendeu, em entrevista à SIC, que “faz inteiramente sentido" que o 25 de Novembro de 1975 seja celebrado, tal como o 25 de Abril de 1974 e entende que quem quer separar as duas datas está "a cometer um erro histórico”.

“Os erros históricos nunca são convenientes, porque a história quando é apresentada na sua totalidade, permite-nos que a ela voltemos, para nela aprender e evitar cometer erros que foram cometidos no passado”, assinalou.

O comandante operacional do 25 de Novembro e primeiro Presidente da República eleito em democracia sublinhou, no entanto, que “há uma data fundadora da Democracia, é o 25 de Abril, que assume perante o povo português o compromisso de honra de lhe devolver a soberania e a liberdade, de fazer com que os portugueses façam aquilo que entendem para viver o seu presente e desenhar o seu futuro”.

“Houve, como toda a gente sabe, sobretudo os mais velhos, aquela perturbação terrível a que chamaram PREC e, houve, obviamente, ameaças significativas à intenção original do 25 de Abril, que era a intenção democrática. O 25 de Novembro reassumiu esse compromisso original”, explicou.

Nesta entrevista, fazendo um balanço dos 50 anos do 25 de Abril, Ramalho Eanes destacou as mudanças positivas, sobretudo, nas áreas da Saúde e Educação e na parte social, referindo que em 1974 havia “uma miséria pungente” que foi atenuada, mas que ainda não desapareceu.

Já sobre o que mudou menos desde a revolução, o general apontou a economia, que não se modernizou, nem se desenvolveu.

A finalizar a entrevista, deixou ainda um apelo aos portugueses: “Se me permite, gostaria de deixar um apelo, tendo em consideração que sou um velho. Tenho quase 90 anos. Gostaria de dizer aos portugueses que é muito importante que se debrucem sobre 25 de Abril, que façam uma reflexão sobre aquilo que se conseguiu”.

“Mas acho que é mais importante ainda fazerem uma reflexão daquilo que querem que venha a ser o país. Uma reflexão que lhes permita ver o que é necessário para que tenhamos um presente melhor. De maior inclusão e, sobretudo, que tenhamos um futuro que corresponda ao desejo dos portugueses. Eu digo isto não por mim, porque sou um velho, nem pelos homens da minha geração. Mas, sobretudo, para as gerações mais novas e para as gerações vindouras, porque a elas cabe assegurar a continuidade da pátria”, concluiu”.

Poe Olímpia Mairos, no site da Rádio Renascença, 22 abril de 2024 - 08:35

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O 25 de Abril na Primeira Página


 Em 1974 não existia internet, nem telemóveis e a televisão, no caso de Portugal, emitia apenas um pequeno período durante o almoço, seguindo-se a emissão da telescola, regressando à emissão por volta das 19 horas, até à meia-noite.

A maior parte da informação diária era acompanhada na rádio e os jornais e revistas tinham o papel fundamental na informação.

Some-se a tudo isto acensura férrea exercida sobre esse orgão de informação, para além de um número de analfabetismo elevado, sem falara na ilieracia generalizada.

Por isso um dos primeiros sinais das mudanças introduziodas pelo 25 de Abril foi através da reacção eufórica do aparecimento, logo nesse dia, de uma imprensa livre, tendo sido a rádio o priencipal veículo informativo do dia e o primeiro meio a ser libertado pelos acontecimentos.

Apesar da censura, graças à inexistência da internet e de uma televisão ainda rudimentar, publicavam-se vários títulos de jornais e revistas, diários, semanais e regionais.

Os diários publicavam-se por períodos diferentes, uns de manhã, outros à tarde e, quando se justificava, editavam várias edições durante o dia, que foi o que aconteceu nesse dia 25 de Abril.

No continente publicavam-se durante a manhã os jornais "Época", "Novidades", "O Século", "Diário de Notícias", o "Jornal do Comércio", todos em Lisboa, muito próximos do regime, principalmente os dois primeiros títulos, e fora de Lisboa, "O Comércio do Porto", o "Jornal de Notícias" e o "Primeiro de Janeiro", do Porto, este último mais independente.

Durante a tarde, num formato mais pequeno, editavam-se os jornais menos afectos ao regime, como o "Diário Popular", "A Capital", o "Diário de Lisboa" e a "Républica", todos de Lisboa, sendo os três últimos considerado jornais da oposição e, por isso, dos que mais sofreram com a censura.Aliás, o título desse jornais da tarde, próximos da oposição, prestava-se a um pregão provocador dos ardinas, ao anunciarem a venda deses jornais: "Olha ó Lisboa Capital República Popular!",

Semanalmente publica-se o então jovem "Expresso" ou o "Sempre Fixe", ligado ao "Diário de Lisboa, ambos oposicionista, os desportivo "A Bola" e "Record", trisemanários. 

Na província publicavam-se outros jornais com algum prestígio, diários o "Correio do Minho", em Braga, o "Diário de Coimbra", o "Diário do Alentejo", em Beja,  "O Setubalense" e nas ilhas o "Correio dos Açores", ou  o "Gazeta das Caldas", bisemanário das Caldas da Rainha, ou os semanários o "Notícias da Amadora", o "Jornal do Fundão", o "Mensageiro de Bragança", "A Rabeca", de Portalegre, o "Correio de Abrantes", o "Badaladas" de Torres Vedras,  ou, nas ilhas, o "Comércio do Funchal" e o "Diário da Madeira". 

Publicavam-se ainda várias revistas semanais, com destaque para a "Vida Mundil", o "Século Ilustrado" ,  "Flama", "Seara Nova" e "O Tempo e o Modo" .

Recorde-se que, há época, também se publicavam clandestinamente jornais da oposição, como o "Avante", do PCP, o "Fronteira", da Luar, o "Portugal Socilista", do PS, ou o "Luta Popular" do MRPP, entre muitos outros.

Facto curioso foi o destaque dado na primeira página da edição do jornal oposicionista "República" ao fim da censura, preenchendo a parte de baixo da primeira página da primeira edição saida em liberdade a frase: ESTE JORNAL NÃO FOI VISADO POR QUALQUER COMISSÃO DE CENSURA.

Igualmente curiosa foi a a 2º edição do Diário de Notícias desse dia, o primeiro a anunciar o golpe militar do 25 de Abril, informação que preenche toda a primeira página, mas que apenas volta ao assunto numa página interior, O restante noticiário ainda se refere à situação anterior, anunciando vários actos realizados ou a realizar por ministros,  secretários de estado e outros responsáveis pelo regime deposto, como se ainda hesitasse, amedo,  no caminho a seguir. Mais evidente nesse jornal, esta duplicidade inicial também pode ser observada noutros jornais publicados nesse dia.

A título de Curiosidade, aqui deixamos a reprodução de alguns dos jornais acima citado, publicados na ocasião.