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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Ferreira Leite questiona esta “Europa”.


"Enquanto houver tratado orçamental, Portugal [e outros países europeus que estão na mesma situação] não vai crescer".
Quem fez essa afirmação foi a antiga Ministra das Finanças e ex-lider do PSD, Manuela Ferreira Leite, durante a  conferência "Economia de Pobreza", que ontem se realizou em Lisboa no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
Manuela Ferreira Leite realçou ainda que "a política europeia tem sido a causa da desgraça" em Portugal "e em toda a Europa".
O Tratado orçamental, recorde-se, impõe uma deficit de 3%, mas é a questão do déficit estrutural que levanta mais polémica, dada a quase impossibilidade de o calcular com rigor.
Também a questão dos 3% do deficit não é consensual, primeiro porque os grandes países da União Europeia, como a França ou a Alemanha, nem sempre o cumprem, dependendo das suas necessidades, e nunca foram penalizados por isso, como, por outo lado, aquela percentagem não tem qualquer base científica, isto é, porque 3% e não, 2% ou 5%???
Além disso, como aquela percentagem é calculada em relação ao PIB, quando o PIB desce ou estagna, como acontece com os países que têm adoptado as medidas de austeridade impostas pela troika, aquela percentagem sobe. Se houvesse medidas de desenvolvimento económico e social, o PIB seria maior e o mesmo valor representava uma percentagem menor.
Ao contribuírem para a estagnação, as medidas impostas pela troika fizeram cair o PIB, aumentar a dívida e o deficit, aumentando a pobreza e o desemprego, entrando-se assim num círculo vicioso do qual um país intervencionado não consegue sair.
Neste momento, sem se questionar a saída do euro ou as medidas impostas por Bruxelas, apenas têm existido duas vias, ou aceitar tudo o que é imposto por Bruxelas, indo mesmo “além da troika” , aproveitando-se a situação para impor um programa ideológico neoliberal que destrói direitos e obrigações sociais, que foi oque fez Passos Coelho, ou tenta-se negociar com Bruxelas no fio da navalha, procurando “redistribuir” a austeridade e retirar as medidas meramente ideológicas impostas pelo “além da troika”,  mas mantendo a economia quase estagnada, que é o que o actual governo está a fazer.
Contudo, a manter as actuais medidas e continuando a impor o “tratado orçamental” da forma cega como o tem feito o politburo de Bruxelas vai agravar a situação de países como Portugal .
Por isso,  questão é, cada vez mais,se será este o projecto europeu que interessa aos cidadãos europeus, àqueles que produzem, trabalham e pagam os seus impostos,  que não estejam do lado do corrupto sector financeiro que é o único beneficiado com tais políticas ???
Questionar a burocracia de Bruxelas e as políticas que impõe aos cidadãos é cada vez menos uma questão meramente ideológica, de direita ou esquerda, mas é cada vez mais uma questão de bom senso e inteligência, se é que se quer salvar o projecto europeu.

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