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quinta-feira, 6 de março de 2014

Porque me vou abster nas eleições para o parlamento europeu

(este é o verdadeiro "parlamento europeu")

Sempre votei desde que obtive o direito ao voto, o que aconteceu após o 25 de Abril.

As minhas opções sempre foram variadas, do voto em branco, ao voto no PPM, exactamente numas eleições europeias, onde o candidato monárquico ele o Miguel Esteves Cardoso.

Maioritariamente sempre votei à esquerda, do PS ao BE, passando, quase sempre, pela CDU.

Sempre considerei que a abstenção não só não tinha qualquer utilidade prática, como era uma atitude antidemocrática e conformista…até hoje!

Agora que estão à porta as eleições europeias, estou fortemente empenhado em optar pela abstenção.

E porquê?

Porque me recuso a participar numa farsa, numa caricatura “democrática”.

Em primeiro lugar o Parlamento Europeu, que é a única instituição europeia democrática, não tem qualquer poder para decidir sobre o futuro da Europa, deixando que instituições anti-democráticas, como o Conselho Europeu, a Comissão Europeia, o Eurogrupo, o BCE ou essa figurinha ridícula que é o Presidente da União Europeia (!!!!) continuem a dominar os destinos dos cidadãos europeus, sem nunca se submeterem ao voto popular.

Se acrescentarmos a aversão das instituições europeias ao direito de os povos referendarem os Tratados que decidem do seu futuro e a farsa continuada de repetir os referendos até à exaustão, quando estes não lhes correm de feição, temos a “democracia” resumida à simples formalidade.

Ainda por cima, a maior parte dessas instituições europeias anti-democráticas que dominam a Europa, apenas respondem perante os “mercados”, isto é, os especuladores financeiros, os banqueiros, as agências de rating, os accionistas das grandes empresas.

O parlamento europeu serve apenas para dar uns ares “democrático” para aquelas instituições  continuarem a  impor a “legitimidades” das medidas de austeridade aos seus cidadãos, mantendo fortes desigualdades sociais e económicas no seu seio, mantendo desigualdades fiscais e financeiras gritantes entre países do norte e do sul, retirando direitos sociais, assaltando as poupanças dos cidadãos para salvarem o seu corrupto sistema bancário (como aconteceu em Chipre), mantendo e apoiando no seu seio governos xenófobos e autoritários como o da Hungria.

As decisões sobre o futuro da Europa são todas tomadas nas costas dos cidadãos europeus, nos gabinetes dos grandes bancos e das grandes empresas, às escondidas de todos e a “democracia” destas eleições  é apenas um pró-forma, para distrair jornalistas e incautos.

Exibindo o berloque que é o Parlamento Europeu, passam a vida a exigir democracia aos outros, quando, mesmo figurões corruptos e autoritários como um Putin têm mais legitimidade democrática do que qualquer comissário europeu ou “presidente” da União Europeia. Aquele, ao menos, foi eleito pelo voto popular. A um Durão Barroso nenhum cidadãos europeu, a não ser que seja um burocrata da UE, teve o direito de escolher.

As eleições europeias ainda podiam servir, internamente, para apresentar um cartão vermelho a este governo, mas para isso era preciso que se perfilasse uma alternativa credível. Ora, por um lado a esquerda apresenta-se a estas eleições fortemente fragmentada e, por outro lado, entre um Francisco Assis ou um Paulo Rangel não existe qualquer divergência de fundo sobre o modelo europeu. Aliás, à falta de diferenças assinaláveis, ambos já começaram a campanha com meros ataques pessoais ou políticos, sem revelarem qualquer nova ideia para a Europa.

Neste momento é isto que eu penso das eleições do Parlamento Europeu e por isso vou fazer campanha pela abstenção.

Penso que se se registar uma grande abstenção , ultrapassando os 65%, a própria União Europeia e as suas instituições perdem legitimidade para continuarem a impor mais austeridade a quem trabalha e para “roubarem” legalmente os seus cidadãos e então talvez existam condições para os cidadãos europeus seguirem o exemplo dos cidadãos da Ucrânia e correrem com esta gente que  governa a Europa.

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